O vereador Washington Guirão parece ter encontrado em Curitiba um destino irresistível – especialmente quando quem banca a viagem não é ele. Apesar de ter prometido publicamente que suas futuras idas à capital seriam custeadas do próprio bolso, a fala parece ter ficado mesmo na tribuna, porque na prática o contribuinte continua pagando cada quilômetro rodado.

Desta vez, Guirão recebeu antecipadamente cinco diárias no valor de R$ 774,71 cada, para cobrir as despesas dos dias 8 a 12 de dezembro, quando cumpriria agenda institucional na Assembleia Legislativa e participaria de um curso sobre Lei de Responsabilidade Fiscal e encerramento de exercício. Só aí, foram R$ 3.873,55 retirados do orçamento municipal. Convenientemente, o termo “responsabilidade fiscal” aparece no título do curso – porque na aplicação prática, ainda falta um pouco.

É verdade que, nessa viagem, ele foi sozinho. Mas vale recordar o episódio anterior, nos dias 14 a 17 de outubro, quando Guirão embarcou para Curitiba acompanhado de seu assessor parlamentar, que virou motorista temporário. Os dois, naturalmente, receberam diárias. Naquele momento, recém-empossado como vereador na véspera, ele justificou a ida à capital alegando que iria ao Tribunal de Contas analisar documentos do Executivo, exercendo seu papel fiscalizador com um zelo digno de novela. Para isso, embolsou R$ 3.089,84 referentes a apenas três dias – nada mal para quem estava só “começando”.

Entre uma viagem e outra, Guirão chegou a discursar na Tribuna Livre dizendo que as próximas idas seriam financiadas do seu próprio bolso. Um compromisso que durou menos que intervalo de sessão. Não só não pagou a própria viagem como também deixou de aparecer justamente quando mais se esperava sua presença: faltou à sessão extraordinária da segunda-feira, 8 de dezembro, quando foi votado o orçamento municipal de 2026 – a pauta mais importante do ano.

Enquanto os demais vereadores discutiam números, prioridades e destino de recursos públicos, Guirão estava longe, provavelmente em mais um de seus compromissos oficiais na capital. Coincidência ou não, o orçamento inclui também as polpudas emendas impositivas que cada vereador terá direito de destinar: valores que ultrapassam R$ 700 mil, metade obrigatoriamente para a saúde, e o restante para entidades regulamentadas. Um pacote generoso que, ironicamente, ele não fez questão de acompanhar de perto.

Assim, entre promessas não cumpridas, viagens estratégicas e cursos de responsabilidade fiscal – que talvez precisem de reforço – o vereador segue acumulando diárias e ausências. E quem continua pagando a conta, como sempre, é a população que acreditou que as próximas viagens seriam “por conta dele”. Claramente, não foram.