Policial Chacina de Icaraíma
Perícia confirma execução em emboscada, e investigação alcança policiais civis de Icaraíma
Vítimas foram mortas em poucos minutos e enterradas logo após o crime; Corregedoria apura possível comunicação de dois policiais civis investigados após a chacina
10/12/2025 12h43 Atualizada há 1 dia
Por: Alex Miranda
Arquivo - Tribuna Hoje News

A Polícia Civil do Paraná divulgou hoje (10), a reconstituição detalhada da dinâmica do assassinato de quatro homens encontrados enterrados em uma área rural de Icaraíma, em agosto deste ano. A investigação aponta que as vítimas — Alencar Gonçalves de Souza Giron, Diego Henrique Affonso, Robishley Hirnani de Oliveira e Rafael Juliano Marascalchi — foram executadas em uma emboscada armada no distrito de Vila Rica, logo após chegarem ao local da cobrança de uma dívida. Além da reconstrução da cena, um novo elemento passou a integrar o caso: dois policiais civis lotados em Icaraíma são alvo de diligências por possível comunicação com investigados depois da chacina, o que pode ter facilitado a fuga dos autores.

Segundo a Polícia Civil, Alencar contratou Diego para realizar a cobrança de uma dívida envolvendo a família Buscariollo. Áudios revelam que Alencar temia retaliações por parte dos devedores, conhecidos na região por envolvimento em atividades ilícitas. Apesar disso, Diego garantia que tudo ocorreria sem violência. O valor devido, no entanto, é controverso: enquanto Alencar mencionava R$ 129 mil, os Buscariollo haviam emitido notas promissórias somando R$ 255 mil — e circulou ainda a versão de que se trataria de uma cobrança de R$ 1 milhão, hipótese ainda investigada.

As conversas entre contratante e cobradores ocorreram em 4 e 5 de agosto, dia em que o grupo foi visto pela última vez com vida. A investigação mostra que, às 12h04 daquele dia, os quatro homens deixaram Icaraíma rumo a Vila Rica. Pelas imagens coletadas em câmeras de segurança, este foi o último registro das vítimas e da Fiat Toro utilizada por elas.

Perícias indicam que, por volta das 12h30, assim que chegaram à propriedade rural objeto da cobrança, os quatro foram surpreendidos por múltiplos atiradores posicionados em três pontos diferentes. Os disparos partiram de pelo menos cinco armas — incluindo fuzis calibre 5.56 e .223, além de pistolas 9mm, .40 e .45. Os tiros atingiram o veículo pela frente, traseira e lateral esquerda, o que reforça a tese de emboscada previamente planejada.

A Polícia Científica concluiu que as vítimas morreram instantaneamente, ainda dentro da caminhonete, não havendo qualquer indício de cativeiro ou tortura. Os corpos foram retirados às pressas e enterrados em uma cova na mata do Tenente. A própria Fiat Toro foi conduzida até outro ponto, onde foi ocultada em um bunker improvisado. Peças do veículo encontradas junto aos corpos confirmam que a remoção foi feita de forma rápida e logo após as execuções.

Laudos de necropsia apontam perfurações múltiplas na cabeça, tórax e costas das vítimas, muitas feitas a curta distância. O estado de conservação dos corpos — preservados pela composição do solo — é compatível com o período em que permaneceram enterrados, afastando novamente a hipótese de cárcere.

Durante meses, a Polícia Civil manteve sigilo absoluto sobre parte das diligências, inclusive entre membros da própria equipe local, devido à suspeita de participação indireta de agentes públicos. No dia 9 de dezembro, a Corregedoria da Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão contra dois policiais civis de Icaraíma. Segundo a corporação, não há qualquer indício de que eles participaram das mortes, mas apura-se se houve comunicação com os investigados após o crime, possivelmente favorecendo fuga, destruição de provas ou tentativa de obstrução.

A ação buscou garantir transparência e evitar o perecimento de evidências. A Polícia Civil reforça que os indícios de autoria permanecem sob sigilo até a conclusão da investigação.

A reconstituição oficial da chacina — das conversas iniciais ao enterro dos corpos — reforça que o crime foi executado com planejamento, rapidez e elevado poder de fogo. A conclusão sobre os responsáveis, entretanto, ainda depende das últimas etapas da investigação conduzida sob acompanhamento da Corregedoria.

 

Linha do tempo

 

Investigação sobre possível comunicação de policiais com investigados após o crime

Dia do crime (Data ainda não divulgada oficialmente) Ocorre o crime que deu origem à investigação principal. A Polícia Civil inicia imediatamente a apuração e coleta de evidências. Os suspeitos passam a ser monitorados pelas equipes responsáveis pelo caso.

Dias seguintes ao crime

Investigadores identificam possíveis interações suspeitas ocorridas após o fato. Relatórios preliminares apontam que dois policiais civis de Icaraíma podem ter mantido contato com investigados depois do crime. A possível comunicação levanta dúvidas sobre eventual favorecimento, vazamento de informações ou quebra de protocolo.

Comunicação é informada à Corregedoria-Geral

Equipes internas notificam a Corregedoria da Polícia Civil sobre as suspeitas. A Corregedoria abre procedimento formal para apurar a possível conduta incompatível com a função pública.

Instauração do procedimento disciplinar

A Corregedoria instaura investigação administrativa. Os policiais citados são oficialmente notificados. O caso passa a tramitar sob sigilo, conforme normas internas.

Pedido de buscas e suporte à investigação

Para esclarecer se houve comunicação indevida, a Corregedoria solicita ao Judiciário: Mandados de busca e apreensão nos endereços vinculados aos dois policiais. Apreensão de celulares, computadores, agendas e eventuais mídias. Acesso a registros telemáticos e dados de comunicação.

Cumprimento dos mandados

As equipes da Corregedoria e de unidades de apoio executam buscas simultâneas. Materiais são recolhidos e enviados para perícia. A ação busca reconstruir eventuais contatos e verificar se houve tentativa de interferência na investigação principal.

Situação atual

A Corregedoria analisa registros de ligações, mensagens, movimentações telefônicas, pPossíveis encontros e qualquer interação dos policiais com investigados após o crime. Ainda não há conclusão sobre envolvimento, intenção ou eventual infração disciplinar. A corporação reforça que a investigação é administrativa, não criminal, até o momento.

Próximos passos esperados

Conclusão do laudo técnico sobre os aparelhos apreendidos. Oitiva formal dos policiais investigados. Possível ampliação da coleta de provas, conforme resultados das análises. Emissão de relatório final pela Corregedoria, que poderá recomendar o arquivamento, advertência, ou a abertura de PAD (Processo Administrativo Disciplinar).