Segurança Vítimas de violência
Abrigamento de mulheres em situação de violência inexiste na maior parte do PR
TCE fez levantamento inédito em 2024 junto aos municípios sobre suas políticas públicas de combate à violência contra a mulher
07/03/2025 16h00
Por: Alex Miranda
TCE-PR

Quase dois terços dos municípios paranaenses - ou 64,83% deles - não realizam o abrigamento temporário de mulheres em situação de violência que se encontram sob ameaça e necessitam de proteção urgente. Além disso, 67,72% não contam com a presença de patrulha Maria da Penha.

Este e outros dados se encontram em relatório produzido pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) a partir de levantamento inédito feito em 2024 junto aos municípios a respeito de suas políticas públicas de combate à violência contra a mulher. As informações completas reunidas pelo órgão sobre o assunto podem ser acessadas em um painel interativo disponibilizado no site da Corte.

O levantamento servirá de base para as auditorias operacionais sobre o tema a serem realizadas pelo TCE-PR nos próximos anos, em seu Plano de Fiscalização (PAF), inclusive ainda em 2025.

A pesquisa também mostrou que 90,29% dos municípios do Paraná não possuem Plano Municipal de Direitos das Mulheres vigente nem programas para inclusão no mercado de trabalho de mulheres em situação de violência; e 82,15% não têm unidade especializada responsável pela gestão e articulação de políticas públicas voltadas à garantia dos direitos das mulheres.

Além disso, 76,64% não oferecem capacitação profissional para mulheres em situação de violência; e 53,02% não contam com qualquer profissional da área da saúde especializado no atendimento a mulheres em situação de violência, seja médico, enfermeiro, psicólogo, assistente ou agente comunitário de saúde.

O relatório detalha ainda que, enquanto nos municípios com mais de 100 mil habitantes "os desafios residem principalmente no planejamento e na articulação de políticas públicas para o enfrentamento à violência contra a mulher", nos municípios menores as principais deficiências estão ligadas à ausência de unidade específica para planejar e gerir políticas públicas na área, bem como a falta de atividades especializadas para o atendimento às mulheres.

Metodologia

As informações foram obtidas pelo TCE-PR a partir da aplicação de um questionário eletrônico sobre o tema em agosto do ano passado, o qual foi encaminhado para os 399 municípios do Paraná. Apenas 18 deixaram de responder o formulário, composto por 39 questões divididas em seis temas: segurança, assistência social, saúde, trabalho, educação e gestão. Dessa forma, a representatividade da pesquisa foi de 95% dos municípios e 97,78% da população do Estado.

A atividade foi realizada por uma equipe composta exclusivamente por auditoras mulheres do Tribunal de Contas, que planejaram o levantamento após realizarem estudos sobre o assunto e visitas técnicas a locais voltados ao atendimento à mulher mantidos por dois municípios da Região Metropolitana de Curitiba: São José dos Pinhais e Quatro Barras.

Elas também realizaram um projeto-piloto em Londrina, discutindo presencialmente com a equipe da prefeitura local a compreensão, lacunas identificadas e possíveis aprimoramentos a respeito de uma versão preliminar do questionário, aplicado naquele município de forma prévia. O formulário também foi discutido preliminarmente com as administrações municipais de Loanda e General Carneiro, a fim de contemplar os municípios de pequeno porte no planejamento.

Com base nesses contatos, o questionário foi aprimorado e novas questões foram desenvolvidas, juntamente com um glossário para servir de apoio às entidades. Cada município também precisou apresentar dez documentos para subsidiar algumas de suas respostas. Contudo, o relatório ressalta que todas as informações fornecidas possuem caráter autodeclaratório.