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Como presente de Natal, cidade recebeu cerca de 50 indígenas que se espalham pelas ruas em situação de mendicância

Grupos de aldeias do Paraná ocupam a Rodoviária Velha e buscam apoio no Centro Pop, enquanto vendem artesanatos e enfrentam riscos de violência

30/12/2025 às 18h00
Por: Alex Miranda
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Arquivo - Tribuna Hoje News
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Umuarama recebeu neste fim de ano, de forma inesperada, um “presente de Natal” que evidencia tanto a riqueza cultural quanto os desafios sociais da cidade: cerca de 50 indígenas de duas aldeias do Paraná chegaram ao município e passaram a circular pelas ruas em condição de mendicância, apesar de estarem na cidade com a intenção de vender artesanatos. A chegada aconteceu no período de férias escolares e de fim de ano, quando os grupos vêm de suas aldeias para realizar atividades comerciais e buscar apoio social.

Os indígenas ocupam a antiga Estação Rodoviária de Umuarama, atualmente desativada e preparada para reforma e revitalização, prevista para começar em janeiro de 2026, além do Terminal de Ônibus Circulares, onde montam tendas para se abrigar temporariamente. Durante a estadia, eles procuram o Centro Pop de Umuarama, unidade de assistência social voltada ao atendimento de moradores de rua, onde recebem alimentação, higiene, roupas e acompanhamento das crianças e adolescentes.

O Centro Pop realiza o cadastro dos indígenas, que apresentam documentação pessoal e de seus filhos, e fornece café da manhã, banho, espaço para lavar até duas roupas e lanche reforçado à tarde. Com a Casa da Sopa fechada neste período, a unidade assume a alimentação das famílias que chegam, garantindo suporte mínimo enquanto permanecem na cidade. “Entre crianças, adolescentes e adultos, já registramos núcleos familiares de até 50 pessoas. A presença desses grupos aumenta o atendimento mensal em cerca de 50 pessoas, passando de uma média de 170 para 243 atendimentos em dezembro”, explica Anderson Aguiar, coordenador do Centro Pop.

As aldeias mais presentes em Umuarama são a Aldeia Ivaí, de Manoel Ribas, e a Aldeia Rio das Cobras, de Nova Laranjeira. Alguns indígenas permanecem na cidade, enquanto outros seguem para cidades vizinhas como Cascavel, Toledo e Campo Mourão, onde fazem baldeações para retornar às suas aldeias. “Hoje mesmo, seis indígenas deixaram o município. O Centro Pop cede passagem e nossa equipe acompanha o embarque para garantir segurança e orientação”, detalha Aguiar.

Apesar da intenção de vender artesanatos, os indígenas enfrentam riscos significativos na cidade. Casos de furtos, assaltos e até agressões físicas foram relatados, mas muitas vezes as vítimas não registram ocorrência, preferindo deixar a cidade para evitar novos problemas. “Eles estão espalhados por toda a cidade. A situação é delicada porque convivem com vulnerabilidade social, crianças e adolescentes em risco e, ao mesmo tempo, tentam manter atividades comerciais e culturais”, afirma o coordenador.

A presença dos grupos evidencia a necessidade de políticas públicas adaptadas às demandas específicas das comunidades indígenas, incluindo proteção contra violência, acesso à documentação, alimentação e suporte para comercialização de produtos artesanais. Além disso, o momento reforça a importância de espaços de acolhimento temporário, como o Centro Pop, que oferecem abrigo e acompanhamento para crianças, garantindo que o período de férias escolares não seja marcado por desproteção ou abandono.

O caso de Umuarama, portanto, coloca em evidência a convivência entre a cultura indígena e os desafios urbanos, ao mesmo tempo em que antecipa um Réveillon atípico para a cidade. O “presente” traz consigo uma reflexão sobre vulnerabilidade social, desigualdade e a necessidade de atenção contínua das autoridades municipais e estaduais às comunidades indígenas que se deslocam temporariamente para cidades como Umuarama, em busca de sustento e serviços básicos.

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